quarta-feira, 10 de março de 2010

ATÉ O ÚLTIMA CHAMADA

*Darci Secchi

Começou nesta semana a segunda etapa de inscrições de estudantes nas Universidades que optaram pelo Sistema de Seleção Unificada – SiSU/ENEM. No início de março haverá uma terceira chamada e, depois, tantas quantas necessárias para integralizar as turmas de cada Curso. Enquanto isso, vamos nos preparar...
Como se sabe, o modelo de seleção utilizado neste ano pela UFMT é similar ao de um pregão de Bolsa em dia de alta volatilidade: os candidatos escolhem um determinado papel - um Curso - e permanecem de olho no home broker (telinha) torcendo para que ninguém o derrube. Quando percebem algum risco na sua ‘linha de corte’, se desfazem do Curso escolhido (realizam o prejuízo) e passam a procurar outro que lhes seja mais compatível com os recursos (notas) disponíveis. Como o mercado é instável e os prazos exíguos, quem vacila, dança... Em resumo, aquele sonho acalentado desde a infância, a paixão por uma determinada profissão, o prazer de enfrentar desafios com dados objetivos, desaparecem, subitamente, engolidos na virtualidade impessoal de um cassino oficial chamado SiSU.
É bem verdade que esse viés, em parte, também ocorria nos modelos classificatórios anteriores, porém, agora, elevou-se ao extremo. Sua meta é ocupar todas as vagas de todos os cursos em todas as Universidades, seguindo a ordem de classificação linear e universal, sem qualquer preocupação com as especificidades dos Cursos, com as necessidades regionais, com os interesses individuais e sociais, enfim, com tudo o que se propõe a uma Universidade Pública e Autônoma.
Seria essa a nova maneira de fazer ‘educação com qualidade’? Duvido, ou melhor, acho um horror! Mas há quem a apóie e considere correta. Paciência! Aos que estão confusos ou indecisos acerca desse processo, resta o conforto de saber que, por falta de rumo, poderia ser ainda pior. Algo como a classificação por ordem alfabética, por exemplo. Os nomes começados com a letra A fariam Administração; os B Biologia os C Contabilidade; os D Direitos; os E Economia, Enfermagem, Engenharia e assim por diante. E os candidatos com nomes iniciados com as letras X e Y? Ah, sei lá... aguardariam até a última chamada ou passariam direto para Zootecnia (onde houver)...
Amigos, não é abdicando das responsabilidades que se consolida o futuro de uma Universidade, Estado ou País. A UFMT não pode fraquejar com a sua missão institucional, perseguida ao longo de 40 anos de história e tão bem expressa no seu site oficial (Visitem-no e vejam que interessante!).
Iguais sentimentos devem ter os Institutos e Faculdades, para escaparem à redução e ao acanhamento. Que tal retomar os projetos estratégicos, as parcerias, alianças, cooperações, convênios, enfim, todas as formas de articulação com o poder público, com os Conselhos, Associações e outras forças vivas da sociedade?
E os nossos Cursos? Terão se tornado meros alfobres com três ou quatro dúzias de estudantes classificados por malhas ou peneiras? Não é preciso ser nenhum Comênius para antever o quanto de ‘fadiga adicional’ exigirá de todos – professores e estudantes – para obtermos resultados satisfatórios.
O que fazer? A aguardar a última chamada? Não. Enquanto os números pululam e se desdizem vamos preparar uma bela recepção aos novos estudantes. No Instituto de Educação creio que será animada e calorosa! Não importa os caminhos e as agruras a que nossos estudantes se submeteram. Eles são a razão da nossa luta. Por isso, serão, sempre, MUITO BEM-VINDOS!

*Doutor em Ciências Sociais (Antropologia) professor do Instituto de Educação/UFMT.

Nenhum comentário:

Postar um comentário